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A Voz do Brasil

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Por força de lei, as emissoras de rádio de todo o país devem transmitir, de segunda a sexta-feira (com exceção dos feriados), o noticiário estatal "A Voz do Brasil", com duração de 1 hora, veiculando informações dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Criado em 1935, é o programa de rádio mais antigo do Brasil, com 86 anos de vida. Foi batizado, originalmente, de "Programa Nacional", com o objetivo de divulgar de forma parcial e direta, livre de interpretações, os principais acontecimentos do país, além de dar popularidade ao governo de Getúlio Vargas. Em 1938, seu nome mudou para "A Hora do Brasil" e passou a ter transmissão obrigatória, com horário fixo das 19 às 20h. Somente em 1962 passou a ser chamado de "A Voz do Brasil", permanecendo até hoje.

O programa carrega duas particularidades que, no meu entendimento, deveriam ser modificadas. A primeira é o fato de somente as rádios realizarem a transmissão. Sabemos que a origem dessa situação remete à década de 30, quando da criação do programa, em virtude do rádio ser, à época, o único meio de comunicação que conseguia chegar à maioria da população. A televisão ainda não existia e os jornais tinham circulação restrita. Porém, já de algum tempo existem outros veículos de comunicação. O mais justo, portanto, não seria todos retransmitirem ou então nenhum?

A segunda e mais importante situação refere-se à condição de obrigatoriedade. É algo que não cabe mais nos dias de hoje. Impor a transmissão de um programa com informações que o cidadão consegue acessar pela televisão, pela internet e pelas próprias emissoras de rádio não se justifica.

Certamente, A Voz do Brasil foi importante durante algumas décadas, levando conteúdo aos mais longínquos rincões do Brasil, num período em que apenas o rádio conseguia esse intento e que não existia, por exemplo, antena parabólica. Porém, houve o crescimento e a expansão das comunicações e, no mundo moderno, há várias maneiras de se propagar as notícias dos três poderes. Além disso, sua audiência é muito baixa, para não dizer irrisória. Como ilustração, a veiculação do programa no YouTube, na última terça-feira, teve pouco mais de 3 mil visualizações e no Facebook, uma das redes sociais mais populares, há pouco mais de 14 mil seguidores, o que, convenhamos, é um número, no mínimo, constrangedor para um país com mais de 210 milhões de habitantes, mas que dá uma ideia do nível de interesse da população pelo programa.

É preciso frisar, porém, um importante avanço que ocorreu em 2018, que foi a flexibilização do horário de veiculação. As rádios passaram a ter a condição de retransmitir o programa entre o período de 19 e 22h. Essa mudança trouxe a oportunidade delas terem uma maior liberdade nas suas programações e o ouvinte uma condição de escolha do que quer ouvir.

O mundo vem evoluindo de forma rápida, em especial nas formas de comunicação e transmissão de informações, principalmente pelo surgimento da internet. A obrigatoriedade de as rádios transmitirem A Voz do Brasil remonta a um tempo em que havia escassez de veículos de comunicação e, portanto, havia uma função social relevante. Atualmente, isso não ocorre mais. Seguir com esse regramento é parar no tempo. Aliás, é viver do passado.

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